segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Esquerda ferida, mas sem força.

A Esquerda ferida, mas sem força.

                                                                                              Gaudêncio Amorim

                        A forma com que os defensores do governo Dilma Rousself tem atacado as ruas de todo País, a partir da possibilidade do impeachment,  revela o sentimento da esquerda na defesa do status político alcançado nas eleições de 2002, com a vitória de Luis Inácio Lula da Silva, após insistentes e históricas tentativas, principalmente após o regime democrático basilar da Constituição Federal de 1988.
                        É cristalina a estruturação e corporificação da esquerda para defender a manutenção de um poder que, em tempos de república, levou mais de um século para alcançar e que, teve no sindicalista Luis Inácio Lula da Silva,  seu maior símbolo de resistência. O governo da presidenta Dilma, por si só não se mantêm, todavia se resiste pela coalisão da esquerda, que elegeu na expressão “não vai ter golpe” o instrumento ideológico do contra ataque, para reparar os estragos de uma embarcação próximo do naufrágio.
                        O leitor atento perceberá que governo se ressuscitou do seu próprio funeral, quando da revelação do propinato ao ex presidente Lula espelhado pelo tríplex do Guarujá e pelo sítio de Atibaia, supostamente ofertados por empreiteiras, como moeda de troca à benesses do poder, constituindo-se assim num grave escândalo de corrupção, erva daninha, típica de países subdesenvolvidos. Se este enredo não entrasse em cena é provável que o impeachment do atual governo estivesse em patamares bem mais avançados do que o atual estágio que, a depender da relação de compadrio entre os poderes poderá resultar na já conhecida e esperada expressão por muitos: “em pizzas”, exceto se vigorar a seriedade da Justiça (STF) ou se ganhar impulso a voz das ruas capaz - de tratar o sistema, quase totalmente infectado pela imoralidade em escala progressiva, tendo em vista os escândalos perenes de corrupção que se amontoam e que, portanto, tem se configurado no país do espetáculo, cuja cena é sempre aguardada pela sociedade, como um enredo ainda mais negativo e picante, não para arrancar aplausos, mas para corroborar uma classe política em ruína.
                        A situação política do Brasil é vexatória, tanto aos olhos do exterior, quanto à visão endógena dos seus próprios cidadãos. Em tempos de República e de democracias, o País ainda não se tinha abalado por tão forte crise política e simultâneo crescimento da crise econômica na acepção de uma sociedade, ainda como plateia, assistindo e se dividindo entre os que querem a manutenção do poder, os que desejam retomar, em face do oportunismo da crise e ainda daqueles que aspiram por novas forças, visionários de uma limpeza geral no Congresso Nacional e no governo que, segue vivo pelo paliativo da esquerda ferida, cuja força de resistência ainda é impresumível no tempo, a depender dos novos espetáculos e principalmente da competência dos seus protagonistas para maquear os engodos ou para extirpar os ataques à verdadeira democracia, já que ambos atores se justificam em sua defesa.
                        Os poderes, por si, não são motivado a promover a revolução, geralmente se entendem entre si sob o pacto da proteção bilateral, de sorte que a revolução efetiva, em tempos democráticos, estará sempre a cargo da sociedade civil e geralmente acontecem por erros de estratégia dos próprios poderes dominantes ou quando os cidadãos não tiverem mais nada a perder, conforme escrevera Florestan Fernandes em 1981, no seu livro “O que é revolução”, cuja coalisão de força é totalmente indesejada pelos artífices do poder.
                        Neste sentido, a possibilidade de revolução, nesse estágio da crise política, se daria da esquerda organizada com ela mesma e poderia se evoluir, se demonstrar a capacidade de envolvimento da sociedade civil, a qual, não nos parece intuir em tal propósito, haja a vista, o desgaste do atual aparato político e a descrença no sistema, já que as revelações de fraude e corrupção acabaram por desanimar a pequena parte da sociedade que ainda teimava na esperança do contraditório.
                        Assim, nem os brios feridos da esquerda, a permanecer o abismos de escândalos do governo, serão suficientes para atalhar o naufrágio em processo. A frágil coalisão de força da esquerda, pode inclusive, encurtar os caminhos para o ato final dessa embarcação em ruina, já que, a esquerda não nos parece ter força estruturante suficiente para um golpe, à força, capaz de estabelecer uma ditadura de esquerda.
                        Com efeito, tudo dito acima, deveras se confirmou na votação da câmara dos deputados na sessão do dia 17 de abril de 2016 e, mais uma vez, não porque a Casa estivesse apreciando o suposto crime da presidenta, mas visionários dos seus próprios projetos individuais de futuro, sintonizados na vontade popular de suas bases eleitorais, já que a grande maioria assim se justificavam, inclusive na menção de suas famílias e pela juventude, tantas vezes citadas. Todavia, o julgamento dessa data não nos pareceu se dá  no epicentro de suas razões (as pedaladas fiscais), mas pelo conjunto da obra, já que tanto governos (em maior ou menor grau) também assim o fizeram e passaram imune à guilhotina do congresso. A votação de 367 votos a favor do impeachment contra os 137 votos a favor, com apenas 02 ausências e 07 abstenções, ao final, representa o nível de insatisfação popular com o governo, apesar de vencedores do certame, nesta 1ª etapa, continuar sendo personas não gratas, já que até agora a sociedade ainda não é vencedora de nada, exceto de conseguir vencer as coalisões de forças dos interessados no status quo vigente, a começar pelo vice presidente Michel Themer, pela presidência da Câmara, Deputado, Eduardo Cunha e pela presidência do Senado Federal, Senador Renan Calheiros, além das centenas de parlamentares contaminados pela podridão do sistema, (é claro que respeitado o contraditório e a ampla defesa, consubstanciados no estado democrático de direito) cuja permanência nele, dificultaria o Brasil construir um novo caminho marcado pela ética na política, pela credibilidade social e pelo progresso econômico. Mas uma coisa de cada vez, até agora os papéis foram cumpridos seguindo o protocolo das expectativas nas instituições e tomara que elas sejam fortes o suficiente para defender os reais interesses da sociedade sem intervenção dos cidadãos numa revolução civil.


Gaudêncio Amorim: Poeta, Escritor e Cientista Político filiado a União Poxorense de Escritores – UPE. 

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