segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O cristão e a política em favor dos pobres


Prof. Izaias Resplandes

O cristão é alguém muito especial para Deus. É uma pessoa vocacionada para servir ao Criador, em agradecimento por ter sido criado, por ter se tornado gente e, principalmente, por ter adquirido a vida, porque não existe nada melhor do que viver. Ser bem agradecido a Deus e esforçar-se para retribuir o bem recebido é o mínimo que uma pessoa possa fazer, quando o benefício é analisado aos olhos de Deus, conforme retratado em sua Palavra.

Artigo completo em:

 http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5013813

domingo, 26 de outubro de 2014

Ah, se o boi soubesse a força que tem!

(artigo em construção)

Prof. Izaias Resplandes de Sousa

A presidente Dilma Vana Rousseff é uma economista e política brasileira, filiada ao Partido dos Trabalhadores, e atual presidente da República Federativa do Brasil. Ela foi reeleita neste dia 26 de outubro de 2014, para um mandato de mais quatro anos, ampliando para 16 anos o ciclo de governo dos trabalhadores do Brasil. Na disputa, obteve 54.500.287 votos, representando 51,63% da votação, contra 51.041.146 votos de Aécio Neves da Cunha (PSDB), representando 48,36% da votação nacional.

O que o governo federal tem feito pela educação dos pobres nos últimos doze anos é algo nunca visto em toda a história do Brasil.
Vejamos um pouco dessa história.

O Crédito Educativo, por exemplo, foi criado em 23 de agosto de 1975 e implantado no 1º semestre de 1976, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Foi uma verdadeira bomba para a pobreza que se utilizou do mesmo.

Em 2001, a situação dos beneficiados com o CREDUC era muito difícil. A maioria estava inadimplente. O governo FHC baixou várias medidas provisórias a respeito da renegociação das dívidas, até que a Lei n. 10.207, de 23/03/2001 disciplinou a matéria, trazendo as seguintes mudanças: 1) O saldo devedor poderia ser renegociado uma única vez; 2) Seria concedido um desconto de 30% no valor da correção monetária para os que renegociasse a dívida e de 35%, para os que estivessem em dia com os pagamentos; 3) O saldo devedor passava a ser a dívida principal, cujo pagamento poderia ser refinanciado em até 15 anos, desde que a parcela não fosse inferior a R$ 150,00; 4) Determinava à CEF a rescisão contratual dos inadimplentes da renegociação e a consequente execução judicial do total da dívida.

O FIES – Fundo de Financiamento do Estudante de Ensino Superior foi criado no governo FHC, através da Lei n. 10.260, de 12/07/2001, permitindo o financiamento de até 70% do valor total do curso, devendo o aluno responder pelos demais 30%. Enfim, era melhor do que o CREDUC, mas mesmo assim não atendia a todos, haja vista que levava em consideração não apenas o candidato, mas toda a sua história escolar (pública ou privada), o grupo familiar do Mesmo (número de membros e renda total), a existência de moradia, entre outros, ou seja, atendia apenas àqueles que poderiam pagar o financiamento após o término do curso.

Em 2010, último ano do governo Lula, a taxa de juros do FIES foi reduzida de 6,5 % para 3,4% a.a. e com carência de 18 meses após a conclusão do curso para o início da cobrança. Também em 2010, o prazo para pagamento foi aumentado para até três vezes ao tempo do curso (Exemplo: Se o curso tivesse a duração de cinco anos, o prazo seria de 15 anos - após a carência - que o aluno teria para quitar seu empréstimo). Atualmente, tramita no Congresso Nacional um projeto de Lei que amplia o prazo de carência para 3 anos.

PROUNI – Criado em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 2005, o Prouni tem como principal objetivo ampliar o ingresso de estudantes brasileiros na educação superior, contribuindo para um maior acesso de estudantes de baixa renda às instituições privadas de ensino superior. Por meio de parcerias de isenção de tributos às instituições privadas que aderirem ao programa, o governo oferta bolsas de estudo integrais e parciais para os jovens egressos do ensino médio público e com renda mensal per capita de até 1,5 salários mínimos (integral) e de até 3 salários mínimos (parciais). De 1995 até 2013, o PROUNI concedeu 1,9 milhões de bolsas de estudo, sendo que mais de um milhão foram bolsas integrais. No 1º semestre de 2014 foram concedidas 191,6 mil bolsas de estudos pelo programa.

QUOTAS – Instituídas pela Lei 12.711, de 29/08/2012, obriga as universidades, institutos e centros federais a reservarem para candidatos cotistas metade das vagas oferecidas anualmente em seus processos seletivos. Essa determinação deve ser cumprida até 30 de agosto de 2016, mas já em 2013 as instituições tiveram que separar 25% da reserva prevista, ou 12,5% do total de vagas para esses candidatos. Seus beneficiados são os alunos que fizeram o ensino médio em escolas públicas com aprovação em todos os anos. O benefício não é estendido para os alunos de escolas privadas, mesmo que tenham ganhado bolsas de estudo para frequentá-las.

Segundo a lei, metade das vagas reservadas destinam-se aos estudantes cujas família tenham renda per capita de até 1,5 salários mínimos e a outra metade para os que tenham renda superior a 1,5 salários mínimos. Há, ainda, vagas reservadas para pretos, pardos e índios, entre as vagas separadas pelo critério de renda.

A distribuição das vagas da cota racial é feita de acordo com a proporção de índios, negros e pardos do Estado onde está situado o campus da universidade, centro ou instituto federal, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa, por exemplo, que um Estado com um número maior de negros terá mais vagas destinadas a esse grupo racial. O único documento necessário para comprovar a raça é a autodeclaração (Disponível em: http://vestibular.brasilescola.com/cotas/lei-das-cotas.htm). Os beneficiários podem se inscrever com a nota do ENEM, sem precisar fazer o exame vestibular e independente de estar ou não inscrito no SISU – Sistema de Seleção Unificada.

Antes da atual lei 12.711/2012 havia  a Lei 10.558/2002, conhecida como "Lei de Cotas", que "Cria o Programa Diversidade na Universidade, e dá outras providências", com a finalidade de implementar e avaliar estratégias para a promoção do acesso ao ensino superior de pessoas pertencentes a grupos socialmente desfavorecidos, especialmente dos afrodescendentes e dos indígenas brasileiros.

EM SÍNTESE, hoje só não faz faculdade no Brasil aquele que não quer fazer. Para os ricos e pessoas que podem pagar pelos cursos, a faculdade nunca foi problema. Mas para os pobres sempre foi assunto de grande importância. Com as medidas tomadas nos últimos doze anos, o aluno pobre, com renda per capita de até 1,5 mínimos tem ingresso garantido na faculdade, seja pela sistemática de quotas, seja pelo SISU, seja pelo PROUNI, seja pelo FIES.


O FIES também financia programas de Mestrado e Doutorado.

sábado, 25 de outubro de 2014

Poxoréu Dois Mil e Catorze


Poxoréu Dois Mil e Catorze

Prof. Izaias Resplandes de Sousa
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Há setenta e seis anos atrás ficou o vinte e seis de outubro de 1938. Naquela data, a ditadura do Estado Novo Varguista, através de seu interventor em Mato Grosso, Júlio Müller Strübing, reconhece a maioridade administrativa de Poxoréu, elevando-o à categoria de Município mato-grossense, através do Decreto-lei estadual n. 208, de 26-10-1938, desmembrado do município de Cuiabá.
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Durante os 76 anos de sua emancipação político-administrativa, Poxoréu viveu a opulência do resplendor dos diamantes extraídos de seu território, desde 1924, quando a expedição exploradora comandada por João Ayrenas Teixeira, formada por sete garimpeiros, descobriu-o como uma nova e promissora terra, uma espécie de eldorado dos diamantes com a capacidade de enriquecer a todos que se aventurassem em seu território, até então, habitat natural dos índios bororos coroados.
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Havia riqueza, muita riqueza... Mas também havia perigo, muito perigo... Os homens daqui eram homens sem jaça, homens de palavra, de coragem, de uma audácia sem limites. 

Matava-se por qualquer coisa, até por um simples olhar de soslaio. O Mato Grosso daqueles tempos era o “Velho Oeste” Brasileiro, semelhante ao velho oeste norte-americano, que não se deixava conquistar sem luta e sem derramamento de sangue. Mas os garimpeiros, homens mais audazes e destemidos que os demais, não se assustavam com as histórias que se ouviam da rica e promissora região. E avançavam até o mais profundo de suas entranhas, arrancando delas toneladas de ouro, diamantes e outras pedras preciosas e semipreciosas encontradas neste Estado.
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O Notável Upenino Aurélio Miranda, sócio-correspondente da União Poxorense de Escritores em Campo Grande, MS, destacado cantor e compositor poxoreano, escreveu um poema intitulado “Minha Doce Poxoréu”, gravado e regravado várias vezes por ele mesmo. Nesse poema ele começa descrevendo Poxoréu da seguinte forma: “Poxoréu dos garimpos, de seus homens bravios, são soldados sem fardas em que a peneira é o fuzil”.
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A Poxoréu de “homens bravios”, armados de peneiras, serviu de berço à história da terra poxoreana. Tão gloriosa fora sua existência naqueles tempos, que recebeu o título de “capital do diamante”, expressão essa também eternizada nos versos de “Minha Doce Poxoréu”, de Aurélio Miranda. Diz ele: “Nesses versos que eu canto, aqui distante quero enaltecer, a capital do diamante, querida terra que me viu nascer”. Mas a Poxoréu de hoje é outra, não é mais a Poxoréu cantada por Miranda.
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A Poxoréu 2014 está bem distante dos tempos brutos das penetrações exploradoras de suas riquezas naturais. Já não existem bororos na região poxoreana, salvo um pequeno grupo que retornou à região de Jarudore, reserva indígena que foi ocupada pelos colonos brancos civilizados. A cidade também possui hoje uma rua com o nome de “Rua Rosa Bororo” e já teve um bairro que, originalmente, fora denominado de “Núcleo Habitacional Rosa Bororo”, mas aquele vínculo indígena já também fora alterado para “Jardim Bela Vista”.
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A Rosa Bororo lembrada em Poxoréu teria sido a índia bororo Cibáe Modojebádo, natural desse povo e que fora capturada, com suas duas filhas, em 1881, por uma expedição militar encaminhada à terra dos Bororos Coroados, com a intenção de promover a “pacificação” dessa gente, segundo registra Maria Auxiliadora de Almeida em seu artigo intitulado “Os Bororo Coroado e a Política Indigenista da Província de Mato Grosso (1845-1887). A articulista é  Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação da UFMT e professora do curso de História da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. 
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A índia Rosa fora batizada com o nome cristão Rosa de Miranda. O sobrenome que recebera foi o da família de Thomaz Antonio de Miranda, o qual a apadrinhou e, em seguida, levou-a ao batismo cristão. De acordo com o relato da historiadora, o objetivo era educá-la nos costumes dos civilizados e prepará-la para servir de intermediadora nas demais expedições pacificadoras junto aos bororos coroados. Mas a Poxoréu de Rosa Bororo também só existe nas páginas da história.

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A Poxoréu de 2014 não é terra de índios, não é terra de garimpeiros, não é terra de ricos, não é terra de comércio forte, não é terra industrial e tampouco terra de serviços. Mais parece terra de ninguém, onde cada um chega, pega o que quer e vai embora, sem nenhum compromisso, nem com a gente e nem com o lugar. Garimpeiros e capangueiros vindos de todos os quadrantes brasileiros aportaram na região poxoreana com seus planos extrativistas “sem qualquer compromisso”. 
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A motivação era maior do que a preocupação com a degradação. Quantas pedras preciosas, diamantes de qualidade foram garimpados em Poxoréu? Não há e nem haveria uma estatística real sobre esses dados, haja vista que, se declarassem a extração ou a aquisição, com certeza teriam que recolher ao fisco a parte que lhe caberia. E essa, nem de longe seria a intenção dos exploradores. 
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De sorte que aqui vieram, tiraram do solo e do subsolo tudo o que desejaram, deixando apenas uma superfície coberta de pedras lavadas, montanhas delas por todo lado, entre outros danos ambientais. Aqui não fizeram qualquer investimento, não compraram fazendas com o bamburro, não construíram belas casas com a riqueza mineral. Aqui foi apenas um cenário de exploração pela exploração.

A Poxoréu de 2014 é uma cidade com população estimada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 16.677 residentes. É uma cidade tentando sobreviver ao declínio da atividade garimpeira, que deixou como legado grandes áreas de terras degradadas, inadequadas para o plantio e até mesmo para a formação de pastagens. 
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A vegetação dessas áreas é de pouco ou nenhum valor. Os rios Poxoréu, Bororo, Areia e Coité, assoreados pela atividade garimpeira, ainda não conseguiram se recuperar. O grande lago formado pela barragem da Usina Hidrelétrica José Fragelli, construída nos anos setenta, do século passado, que apontavam para uma eventual implantação de um iate clube é, atualmente, um gigantesco banco de areia sob administração de uma empresa que produz e vende energia elétrica em Mato Grosso.

E continua: “Há alguns anos o índice de crescimento populacional é negativo. Somem-se a isso preocupantes indicadores sociais e o desmembramento político de Primavera do Leste. 
O município perdeu a vitalidade econômica desde que o garimpo entrou para a história. Resta a força da pecuária com suas 298 mil cabeças bovinas, que gera poucos empregos da porteira para dentro”.

Em 2014, a maior fonte de empregos para a população de Poxoréu é o serviço público. O fraco comércio e o incipiente setor de serviços quase nada empregam. 

FotoJovens cheios de vitalidade se sentem bem empregados por estarem trabalhando nas granjas e fazendas de Primavera do Leste, em serviços braçais que não demandam o uso de qualquer técnica; outros tantos, de estarem se formando “técnicos” na Escola Técnica Estadual de Poxoréu, resultante da obra social “Lar do Menino Jesus e Cidade dos Meninos”, iniciada pela médica filantropa italiana Edwige Dassi durante os anos oitenta e, atualmente, transferida para a administração da Comunidade Religiosa “Orionitas” (que é um bom projeto para Poxoréu); e ainda outros mais, que se sentem ricamente afortunados e se regozijam de poder realizar um curso nas faculdades de Primavera do Leste e Rondonópolis, para depois poderem se aventurar no mercado de trabalho dos municípios vizinhos, já que outras sortes, além do desemprego ou do subemprego, não teriam se permanecessem em Poxoréu (que também não é ruim para Poxoréu).

FotoA vida na quase octogenária Poxoréu 2014 é pacata. O centro velho da cidade adormece cedo. Às oito da noite quase não se encontra mais o movimento nas ruas, outrora apinhadas de transeuntes, fregueses dos diversos bares centrais, frequentadores das noites na rua Bahia, a rua boêmia e no Diamante Clube Sociedade Recreativa, ou mesmo dos passeios pelas praças da Liberdade e Manoel Dioz Silva. Não há opção de lazer para a juventude. Não há cinemas, não há clubes, não há praças atrativas. A noite se faz nas lanchonetes, pastelarias e restaurantes da Av. Joaquim Martins de Siqueira e da Av. Brigadeiro Eduardo Gomes. Como alternativa, os jovens se contentam em, estridentemente, fazer um barulho infernal nos alto-falantes de seus carros, em alguns locais da cidade, como por exemplo, nas confluências das Avenidas Brigadeiro Eduardo Gomes e Brasília, que demandam para a MT-130, rodovia que agora é privatizada, sendo explorada pela empresa “Morro da Mesa S/A”, com sede em Primavera do Leste, apesar de cortar o município de Poxoréu, de ponta a ponta.

FotoNo entanto, independente da balança dos pesares de sua atividade econômica pouco ou nada render ao município de Poxoréu em termos de impostos e ainda do reclamado alto valor dos pedágios que a população desse município tem que pagar para usar a rodovia em suas demandas a Primavera do Leste ou Rondonópolis, a gente do lugar se sente feliz de poder trafegar em uma estrada bem mais conservada pela empresa “Morro da Mesa S/A” do que a MT-130 pré-privatizada e de ter a oportunidade de alugar algumas propriedades para o uso da empresa em Poxoréu, bem como pela chance de obter um emprego, ainda que de baixo salário, em seus quadros de servidores. Apesar dos pesares, para o povo, a “Morro da Mesa” é uma novidade bendita dessa década poxoreana.

FotoDo ensino, não há muito mais que acrescentar, posto que segue a média estadual. Organizado por meio de ciclos de formação humana, numa tentativa de ajustar a clientela ao parâmetro série/idade, não tem os resultados satisfatórios reais alardeados pelo governo estadual. Alunos que mal sabem escrever o próprio nome entram e saem do ensino médio com pouco valor agregado. 

FotoNo afã de se obter a chamada qualidade social da educação, garantindo a toda a população o acesso ao saber, conforme teleologicamente preconizado na Constituição Federal de 1988, o rigor da seletividade em prol da qualidade educativa foi abandonado. No entanto, o que se verifica na realidade é que a educação inclusiva, a educação para todos somente tem garantido posições pífias nos exames internacionais como o PISA, ou nos nacionais como o ENEM e o IDEB.

FotoNa Poxoréu 2014, como ocorre em todo o Mato Grosso, os discentes brincam de tirar a sorte nos exames oficiais. Grande parte do alunado sequer leem as questões dos exames, partindo logo para o “chute”. Com tal prática, alguns desses sortudos logram obter melhores notas do que aqueles alunos que se esforçam para aprender os conteúdos trabalhados nas escolas, para que possa tirar deles o proveito que precisarem. Mas o pior mesmo é que, segundo nos fora informado pela Assessoria Pedagógica de Poxoréu, na pessoa da profª Leda Figueiredo Rocha do Lago, em palestra proferida aos profissionais da educação da EE. PE. CÉSAR ALBISETTI, eu entre eles, o governo apenas divulga os relatórios fornecidos diariamente através dos diários eletrônicos e dos relatórios elaborados pelos profissionais das escolas. Segundo Lago, se existe algum responsável pelo baixo índice de aprendizagem dos discentes de Poxoréu, com certeza não é o sistema estadual de ensino, mas sim, os próprios profissionais da educação, pelo que atestam em seus registros escolares. Se a maioria dos alunos é aprovada por PS – Progressão Simples, de que estaríamos reclamando? Deveríamos, sim, estar felizes porque nossos alunos estão aprendendo o que lhes estão sendo ensinados, conclui a Assessora Pedagógica.

FotoA Poxoréu 2014 na área da educação, semelhante ao Estado que a incorpora, vive a farsa das provas lotéricas, onde alunos fazem avaliações com quarenta questões de múltipla escolha em apenas quinze minutos, ou até menos, para poderem se ausentar da escola mais cedo. O que essas avaliações provam? Elas não provam o conhecimento dos alunos, provam apenas que a grande maioria que consegue bons resultados nelas é formada por pessoas com muita sorte, posto que nenhuma pessoa, por mais inteligente que fosse jamais leria 40 questões longas (elaboradas para incentivar a leitura), em meia hora. A média do ENEM é de três minutos por questão. 

FotoNa EE. PE. CÉSAR ALBISETTI se trabalhava com a hipótese de seis minutos por questão, concedendo-se tempos de quatro horas para a realização das provas tipo “ENEM”, que visam a preparação dos alunos para tal tipo de exame. Mas esse tempo interessa a bem poucos. 

FotoA maioria quer apenas escrever o nome e marcar xises em quaisquer das alternativas, mesmo sem ler, sem entender e sem saber o que é que está respondendo. E quando são impedidos de deixar a sala, praticam atos de indisciplina para serem retirados do local, a fim de não prejudicar os que ainda estão fazendo as avaliações. Assim, os tempos de provas foram reduzidos para duas horas e ainda se tem verificado ser muito tempo.

FotoA Poxoréu 2014 na área da educação se parece com uma cidade de contos de fada, histórias da Carochinha e fábulas do dia a dia. Partindo da ideia verdadeira que preconiza a impossibilidade de um aluno conviver o ano letivo todo em sala de aula e não ter aprendido nada, afirma-se que o mesmo não poderia ser retido, numa completa ignorância da realidade. Não estamos afirmando que os alunos não aprendem nada. Estamos dizendo que o que aprendem não é suficiente para considerá-los habilitados a qualquer coisa na vida, e, muito menos, ao exercício profissional em alguma área do conhecimento. O que estamos dizendo é que essa educação cantada e decantada não contribui em nada com o progresso e o desenvolvimento de nosso país, o qual necessita de mentes bem desenvolvidas, de pesquisadores sérios e capazes de fazer descobertas científicas de valor, talvez prováveis prêmios Nobéis. 

FotoNo entanto, o que temos é uma maioria enganada com diplomas e certificados que atestam apenas o fato de que estiveram na escola, mas que não correspondem ao quantitativo real de conhecimentos que declaram ter os seus possuidores. O resultado disso é visto em professores que ingressaram no magistério públicos com médias entre 0,1 e 5 pontos, em um universo de 1 a 10 pontos. No passado chamávamos essas médias de fracas e insuficientes, ainda que representassem algum conhecimento. 

FotoMas não serviam para reconhecer a capacidade de tais pessoas para ingressar no serviço público e muito menos no privado. Na Poxoréu e Mato Grosso de hoje, nota 0,1 (zero vírgula um) é uma boa média para ingressar no serviço público, como na área da educação, por exemplo. O Edital nº 004/2009, que disciplinou o último concurso estadual para a Secretaria de Educação dizia em seu item 15.3, o seguinte: “Não serão eliminados do concurso público os candidatos aos cargos de níveis superior, médio e fundamental que se enquadrar nas situações a seguir: a) não obtiverem pontuação zero em qualquer um dos grupos da Prova Objetiva (Conhecimentos Gerais - P1, Conhecimentos Complementares - P2 e Conhecimentos Específicos P3); b) não obtiverem pontuação zero na Prova Dissertativa – P4, sendo candidato ao cargo de Professor  da Educação Básica; b) não obtiverem pontuação zero na disciplina de Língua Portuguesa”. Veja-se que bastaria não tirar nota zero e estaria concorrendo a uma vaga no serviço público mato-grossense. É esse tipo de servidor que a educação 2014 está proporcionando em Mato Grosso e, por tabela, em Poxoréu.

FotoSempre proclamei as coisas boas dessa terra e me omiti de publicar a respeito das coisas ruins. Todavia, entendo que não posso mais ficar calado vendo um povo ser enganado dessa forma. Não posso compreender que isso seja educação. Não posso ficar calado vendo uma geração inteira da juventude se deixando sucumbir aos projetos educacionais vigentes. Recentemente assisti a uma palestra em Cuiabá, proferida por um Conselheiro do Conselho Nacional de Educação. 

FotoE ele dizia que em resposta àqueles que afirmavam que escola boa era a escola do passado, ele perguntava se aquela escola atendia a todos. E como a resposta era negativa, ele redarguia dizendo: como se pode dizer então que aquela era uma escola boa? E concluiu dizendo que aquele discurso elitista não é mais o discurso brasileiro. E que hoje o Brasil quer oferecer educação de qualidade para todos, sem deixar ninguém de fora, sem privilegiar ninguém.

FotoO discurso do Conselheiro do CNE é interessante. Está de acordo com a proposta de educação com qualidade social prevista na Constituição Federal Brasileira, ou seja, com a proposta de não deixar ninguém de fora das salas de aulas. No entanto, por conta desse tipo de educação, não apenas algumas pessoas ficam de fora. Nesse processo todos ficam marginais do progresso e do desenvolvimento científico. Ninguém terá competitividade estudando nas escolas públicas com essa filosofia de educação. Terá apenas uma base mínima para viver.

FotoO mundo de 2014 precisa de respostas urgentes aos problemas graves que afetam a humanidade, tais como a produção de alimentos, a questão da água potável, as alterações cliáticas, a pesquisa espacial por mundos possíveis de serem habitados pelos terráqueos, a criação de novas tecnologias para se atingir esses mundos, a cura de doenças como o câncer e outras de mesmo nível de periculosidade... 

FotoNão é uma educação para todos que vai propiciar a formação de profissionais desse calibre. Podemos sim, realizar essa educação básica para todos, mas não podemos privar a humanidade de ter as nossas melhores mentes a serviço da salvação de todo o planeta. Se não descobrirmos as respostas para questões como essas supraelencadas, não haverá futuro para todos. Destarte, de que valeria a decantada qualidade social da educação, a educação para todos, se não houver futuro para todos?

FotoEsse é o retrato em preto e branco que faço da Poxoréu, do Mato Grosso e do Brasil 2014 que vejo mascarado por séries estatísticas e relatórios falsamente elaborados, posto que não coadunem com a realidade a que se referem, principalmente na questão educacional.

FotoMinha avaliação, no entanto, não para por aqui. Faço também o meu retrato colorido para a Poxoréu 2014.

Para o caso da educação em Poxoréu 2014, vislumbro a necessidade de se criar e implantar o Sistema Municipal de Educação e sair desse esquema implantado em Mato Grosso que prioriza a qualidade social com a inclusão, a certificação e a diplomação em massa, em detrimento da qualidade técnica e do progresso e desenvolvimento das ciências em geral. 

A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) permite que isso seja feito. Que se mantenha a educação para todos, mas que somente se promovam aqueles que estiverem da média para cima, além de se oferecer aulas de reforço não apenas para os piores, mas principalmente para os melhores, para que possam avançar ainda mais rápidos, de forma a poderem contribuir com o processo de salvação e sobrevivência da humanidade, na própria Terra, ou alhures, espaço sideral afora. 

FotoVamos oferecer educação para todos, mas não promover a incompetência de todos só porque estiveram na escola. Se vão ali apenas pela comida, vamos dar-lhes a comida. Mas àqueles que não quiserem comida e que desejarem outras coisas mais, vamos também oferecer esse algo mais, porque é isso que fará toda a diferença.

FotoPara o desenvolvimento da Poxoréu 2014 vislumbro a necessidade de implantação da educação tecnológica municipal com qualidade total, com um parque tecnológico que possibilite aos alunos estagiarem nos próprios campos de formação, de forma a preparar uma mão de obra especializadíssima para o Mato Grosso e para o Brasil. 

FotoNão podemos obrigar as empresas de alta tecnologia a virem para cá, mas poderemos exportar mão de obra tecnológica de qualidade, pronta para operar no mercado. Esse seria o principal produto de Poxoréu. 

FotoAo tempo em que os alunos fossem recebendo a educação básica para todos, os melhores, selecionados com alto rigor de qualidade, estudariam em tempo integral, com mais de sete horas diárias, dedicando uma parte desse tempo para aperfeiçoar a formação teorica geral recebida nas escolas de base e o restante do tempo para o desenvolvimento da formação tecnológica. 

Vislumbro também a necessidade de ampliação e fortalecimento da Escola Técnica Estadual de Poxoréu hoje administrada pelos Irmãos Orionitas, porque é um projeto que coaduna com as necessidades brasileiras.

FotoNo campo do Turismo para Poxoréu, vislumbro a necessidade de se implantar meios municipais para criar estruturas e administrar essa industria, a qual tem sido a salvação para muitos municípios que entraram em decadência após o fim dos ciclos extrativistas. É preciso viabilizar os passeios econômicos ao Morro da Mesa através de teleférico ou de elevadores, com visitas diárias. 

FotoApós a implantação da estrutura, pode-se buscar a viabilização do projeto pela privatização. Mas é preciso que o município tenha a coragem de propor projetos inusitados que atraiam os turistas para cá. É preciso melhorar a infraestrutura nos nossos balneários, criando pousadas com quiosques para a venda de lembranças e aluguel de equipamentos de camping. 

FotoÉ preciso implantar aqui os cursos para guias de turismo. É preciso priorizar os recursos para aquilo que garantirá a sustentabilidade do Município. A uma altura dessas, não podemos mais continuar vivendo uma crise de desenvolvimento. 

FotoTemos que atrair pessoas para cá, para que nossa cidade volte a crescer e encontre sua nova vocação, a qual vislumbro ser a exportação de mão de obra superqualificada e a indústria do turismo. 
Devemos investir o mínimo possível na manutenção das demais áreas e o máximo nessas novas áreas que poderão assegurar o futuro do povo e da terra poxoreana.

Aceito a crítica de meus projetos e de minhas ideias, esperando que de tais críticas possam resultar em ideias mais brilhantes e viáveis que contribuam para a promoção do desenvolvimento desse Município, ao invés da simples oferta da extrema unção aos nossos sonhos dessa natureza. 
Se amarmos de fato e se querermos mesmo ver o progresso dessa cidade, devemos parar de ficar apenas apagando focos de incêndios que pipocam aqui e ali e envidarmos mais esforços para programar projetos de médio e longo prazo, transformando as causas que agravam a nossa crise econômica e pontos de partida para outras soluções. Uma crise não é o fim de tudo, é o fim de um ciclo e o começo de outro.
Eis uma análise de nossa realidade. Eis algumas soluções que temos pensado para resolver a nossa crise de natureza econômico-social e de desenvolvimento e progresso. 

As soluções que indico podem não ser as soluções mais viáveis, podem nem servir como solução, mas ofereço-as a esta cidade que aprendi a amar como minha terra, esses pontos de apoio para se desencadear um efeito dominó de novas ideias e projetos que façam-na retornar ao mapa do crescimento e do desenvolvimento, em concomitância com a boa situação econômica de Mato Grosso e do Brasil. 
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Poxoréu, 26 de outubro de 2014. Prof. Izaias Resplandes de Sousa, filho adotivo de Poxoréu. Advogado, professor de Matemática, Especialista em Estatística, Gerente de Cidades, Pedagogo e escritor mato-grossense com atuação em Poxoréu, MT e região.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Poxoréu, do diamante às pedras no caminho

(Revista MTAqui edição outubro) 

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EDUARDO GOMES - Uma cidade em descompasso na região mais desenvolvida de Mato Grosso
Fotos: FELIPE BARROS
Poxoréu tinha tudo pra dar certo, mas não foi bem assim. Parte do centro ainda resiste e mantém ares de normalidade, com razoável movimentação. Porém, no conjunto, a cidade agoniza.
Desde 1960, quando tinha 16.687 habitantes, a população nunca foi tão reduzida quanto agora: 16.919 residentes. Há alguns anos o índice de crescimento populacional é negativo. Somem-se a isso preocupantes indicadores sociais e o desmembramento político de Primavera do Leste. O município perdeu a vitalidade econômica desde que o garimpo entrou para a história. Resta a força da pecuária com suas 298 mil cabeças bovinas, que gera poucos empregos da porteira pra dentro.
revista outubro siteO caos não dá lugar à comemoração pelos 75 anos de emancipação, data que na época das vacas gordas era celebrada em 26 de outubro. A luz no fim do túnel aponta para a MT-130, a rodovia que cruza o perímetro urbano e será uma das principais de Mato Grosso, pois é rota obrigatória das commodities de Paranatinga e região ao terminal ferroviário de Rondonópolis. Dos bons tempos do garimpo não resta nem mesmo o xibiu que os capangueiros refugavam.
LEGENDA: Placa identifica uma Poxoréu que não mais existe
A realidade mostra que o momento é de tirar as pedras do caminho pra encontrar o diamante sem jaça e, assim, bamburrar. A outrora Capital dos Diamantes não aguenta mais ficar blefada.
REVISTA OUTUBRO SITESituada entre Rondonópolis, Primavera do Leste e Campo Verde, Poxoréu está em descompasso na região mais desenvolvida de Mato Grosso. A riqueza da cidade escapou por entre as mãos.
LEGENDA: Com a economia em descompasso muitas portas baixaram e até a Zona Eleitoral foi removida do município
Agências bancárias baixaram as portas, a 5ª Zona Eleitoral foi removida para Nova Mutum e figuras ilustres pegaram a estrada, se mandaram para outros lugares, de onde arrotam suspeita paixão pela terra que um dia também foi deles. O êxodo esvaziou o lugar, mas a Santa Sé permanece firme, com sua Matriz São João Batista e outras igrejas, e seu foco continua nos índios xavantes e bororos, sem perder de vista a população urbana e rural, que em boa parte se converteu às denominações evangélicas, que abriram templos por todos os cantos.
revista outubro siteLEGENDA: Na praça deserta com calçamento de pedra, a matriz dos padres defensores dos índios
A vida segue ao ritmo do tique-taque, avançando, mas diferente dos anos 1940, 50 e 60, época em que a elite econômica e os novos ricos do garimpo usavam o avião como meio de transporte.
Uma das rotas Cuiabá-Belo Horizonte, operadas pela extinta companhia Real Aerovias, fazia escalas na cidade com seus bimotores DC-3. O município vivia um período de opulência no ciclo do diamante. 
Nas décadas de 1960 e 70, quando a agência do Banco do Brasil não dispunha de numerário para grandes saques – então comuns –, o gerente recorria a um velho conhecido de todos, Prisco Menezes, o ex-garimpeiro que se tornou milionário emprestando dinheiro a juros. Àquele tempo o médico e ex-prefeito Antônio dos Santos Muniz, o Doutor Muniz, dizia que a cidade era um verdadeiro ímã, que segurava todos que chegassem. O Doutor Muniz era exceção quanto ao poder de sedução de Poxoréu: um dia ele trocou a Boa Terra da Bahia por aquele lugar, de onde saiu às pressas para Rondonópolis deixando pra trás inclusive o mandato na prefeitura, após ser derrubado do cargo num verdadeiro golpe de Estado em dimensão municipal.
revista outubro siteLEGENDA: Nos primórdios de Poxoréu o Morro de Mesa mostrou o rumo ao garimpo; agora é cartão-postal que a prefeitura não sabe explorar 
Por volta de 1980, com os primeiros sintomas da exaustão do diamante, levas de garimpeiros migraram para Juína. No auge do garimpo – estimava João de Barro, antigo morador do distrito de Alto Coité –, 6 mil aventureiros arriscavam a sorte em Poxoréu.
Garimpo não era a única aventura. Para o paulista Jubal Martins da Siqueira, ex-vereador e ex-pecuarista já falecido, em nenhum lugar do mundo se joga tanto quanto em Poxoréu. O jogo a que Jubal se referia é o baralho, mesmo. São muitos os tunguetes e casas onde as cartas correm soltas madrugadas adentro. Jubal era falante sem perder a verdade nem abrir mão da seriedade.
revista outubro siteLEGENDA: Esta é a Rua Bahia, que nos bons tempos do garimpo foi a mais famosa zona boêmia de Mato Grosso eagora está reduzida a escombros e entregue ao silêncio
Em 1969 Jubal construiu na fazenda Lidianópolis, de sua propriedade, a primeira piscina da zona rural de Poxoréu.
Antes da piscina de Jubal, em 1966, chegou ao distrito de Paraíso do Leste o mineiro, descendente de italianos, José Nalon, acompanhado por familiares, e iniciou ali, naquele ano, o plantio da primeira grande lavoura de fumo para a indústria tabagista de que se tem registro em Mato Grosso. O pioneirismo dos Nalon não parou por aí. Trinta anos depois, Manoel Nalon, filho do fumeiro, liderou um movimento que resultou na tentativa da cultura do maracujá em escala no município.
LEGENDA: Com o fim do garimpo as mulheres partiram e a Rua Bahia perdeu o quê da boemia - é cenário de varal com roupas comuns
revista outubro siteO Morro de Mesa foi a referência geográfica aos garimpeiros que no final do século XIX buscavam o diamante nas altas cabeceiras do pantaneiro rio São Lourenço. Agora, é ponto turístico, mas sem exploração – cartão-postal que a prefeitura não sabe valorizar.
A colonização do lugar começou em 1924 com o garimpo. Quatorze anos depois Poxoréu era cidade, não sem antes ser destruída por um incêndio que devorou seus primeiros casebres. No ano seguinte à emancipação, o coronel Luizinho – que na bia batismal recebeu o nome de Luiz Coelho de Campos – foi empossado intendente, que era a denominação do prefeito à época.
Rica em diamante, Poxoréu ganhou representatividade política. O ex-senador Louremberg Nunes Rocha, que nasceu naquele lugar, conta que na eleição para presidente da República em 1950 todos os candidatos foram à sua cidade.
A representatividade política numa visão doméstica em Poxoréu é atípica. Filho do ex-prefeito Joaquim Nunes Rocha, Lindberg Nunes Rocha administrou o município em vários mandatos; a prefeita Jane Maria Sanches Lopes é sua mulher e Louremberg, seu irmão. Antes da figura da reeleição, Lindberg cismou em permanecer na prefeitura após seu mandato. Para tanto lançou seu primo Lucas Ribeiro Vilela à sua sucessão. Com a força do clã Rocha, Lucas ganhou de barbada. Juntos os dois primos protagonizaram um episódio talvez inédito na política nacional. Eleito, o parente deixou as chaves da prefeitura e junto com elas uma procuração com plenos poderes ao antecessor. Essa situação perdurou ao longo do mandato.
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“O problema do diamante é que ele não dá duas safras”, resume o ex-garimpeiro e agora parceleiro do Incra João Gualberto Guimarães, o João Gogó. A opinião de João Gogó reflete parte do problema, que é maior porque a incompetência dos prefeitos nunca deu passagem à alternativa econômica. Tanto assim que uma infeliz poligamia do município com o Estado e o governo federal resultou na criação de dois projetos Casulo periféricos à cidade, onde foram assentados ex-garimpeiros. Todos os que bebem água, à exceção de alguns em Poxoréu, sabem que o homem acostumado ao garimpo não se adapta à agricultura familiar. Por isso, os Casulos foram pro beleléu.
O diamante escafedeu-se e o pouco do que resta enfrenta o travamento do Ibama. Sem garimpo, não há onde trabalhar. Dona Maria do Carmo Silva Soares, nascida na cidade e filha de garimpeiro, sabe bem o que é desemprego. Ela tem três filhos e um pegou as malas e se mandou para Primavera do Leste, onde mão de obra ociosa é igual fantasma – pode até existir, mas ninguém vê.
Dona Maria do Carmo é diarista, mas não encontra serviço todos os dias, para garantir o sustento de sua casa, já que se separou do marido. Ela conhece tão bem a Poxoréu de agora quanto a de antes, nos idos do Diamante Clube superlotado com os grandes bailes abrilhantados pelas principais orquestras brasileiras.
Nenhuma zona boêmia ganhou tanta fama em Mato Grosso quanto a Rua Bahia, no centro de Poxoréu. No começo dos anos 1970, quando o garimpo estava no auge, mais de 20 boates mantinham acesas suas luzes vermelhas, com suas vitrolas no volume máximo ou ao som do maestro Marinho Franco. Em frenesi, as mulheres dispostas a tudo, com suas roupas provocantes e carregadas com maquiagem que realçava a beleza e escondia a feiura.
O coração de Poxoréu batia mais forte na Rua Bahia, onde garimpeiros endinheirados lavavam o chão dos cabarés com cerveja Brahma gelada e pagavam o doce sabor do sexo com a moeda mais forte e conhecida por todos: o diamante.
À noite a Rua Bahia fervilhava; na madrugada, mais ainda. Onde se garimpa diamante a criminalidade é zero ou quase isso, ao contrário das praças das fofocas do ouro. Com sua riqueza, seu sexo, sua farra e seu jogo, Poxoréu foi paraíso.
Quando o último boêmio saía do cabaré e as portas e janelas se fechavam no salão silencioso e impregnado pelo azedume da cerveja e do conhaque derramados, Poxoréu voltava ao garimpo, para mais tarde, tão logo o sol se pusesse, voltar a viver gostosa noite de orgia.
As mulheres da Rua Bahia conviviam bem com a população e embarcavam para Cuiabá ou Rondonópolis nos ônibus da empresa Baleia junto com os demais passageiros. Normalmente saíam em pequenos grupos para as compras na Loja Para Todos, do Bartolomeu Coutinho, o Bartô, em outros pontos do comércio ou em busca de uma agulhada de Benzetacil na farmácia de seo Amarílio de Britto, pra curar incômoda gonorreia. Algumas, mais atiradas, entravam na Matriz para preces a Jesus, o Senhor que perdoou Madalena. Os rufiões também se misturavam ao povo, onde se abrigavam os coronéis das quengas e os gigolôs. O Cine Roma elas conheciam somente pelo lado de fora, porque a exibição dos filmes coincidia com o horário do trabalho da profissão mais antiga do mundo.
Sem o diamante, a Rua Bahia morreu. Seus cabarés viraram ruínas e as pedras de seu calçamento não escutam mais os ais do prazer, ouvem apenas o cortante silêncio sepulcral de uma triste cidade sem garimpo, sem zona boêmia, sem rumo.
Mesmo que a cidade retome sua movimentação, dificilmente a Rua Bahia ressuscitará. O sexo perdeu o quê de boemia, ganhou espaço entre a juventude com sua parafernália nas redes sociais. O casamento já não é mais o mesmo. A vida mudou. Falta agora a mudança de Poxoréu, ou melhor, seu reencontro com a vitalidade econômica para que seu povo tenha melhor qualidade de vida e sua força de trabalho encontre o que fazer perto de casa.
Em 1949, usurpando o papel do governo no melhor sentido da palavra, o garimpeiro mineiro e residente em Poxoréu Jacinto Silva rasgou a machado a rodovia Deputado Osvaldo Cândido Pereira (MT-130). Nos anos 1980 ela foi pavimentada pelo governador Júlio Campos. Agora vai ganhar intensa movimentação com o transporte de commodities agrícolas para o terminal da ferrovia em Rondonópolis.
Poxoréu não tem política para incentivar investidores da agroindústria, de modo a descentralizar a concentração das fábricas que constroem plantas nas boas cidades que a circundam. Pela MT-130 a cidade tem escoamento garantido. Falta produzir antes que a juventude parta em busca do amanhã que a bruma administrativa não deixa clarear sobre a antiga Capital dos Diamantes.
SERVIÇO:
REVISTA OUTUBRO SITEPoxoréu, na região sul, dista 240 quilômetros de Cuiabá, 85 quilômetros de Rondonópolis e 40 quilômetros de Primavera do Leste. O principal acesso é a MT-130.
A pista do aeroporto não é pavimentada.
A cidade fica à margem do rio Poxoréu, nome que para os bororos quer dizer água escura.
O Produto Interno Bruto (PIB) do município é de R$ 277.225.000.
A renda per capita de Poxoréu é de R$ 15.749,64 e a mato-grossense, de R$ 19.644,09.
O Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,678 numa escala de zero a um; o IDH médio dos municípios de Mato Grosso é de 0,731.
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INFOGRÁFICO: ÉDSON XAVIER

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